Resenha do livro A escola que eu sempre sonhei Sem achar que poderia existir

 Resenha do livro

A escola que eu sempre sonhei Sem achar que poderia existir

Professora Siliane Nunes da Silva

23 de novembro de 2024

    

Educar é viver
Rubem Alves

Na escola da Ponte, as crianças aprendem desde cedo que a escrita serve para dizer a vida que cada um vive.  Já tinha lido esse livro lá na faculdade, mas reler agora, depois de quase 20 anos em sala de aula, está me trazendo novos significados. É como reacender a vontade de fazer diferente. 

Como seria maravilhoso que meus alunos pudessem perceber o quão valioso é aprender e desenvolver a escrita. 

A escola da Ponte é um lugar seguro, onde se aplica a educação na cidadania e os alunos têm ciência dos seus direitos e deveres, não só isso, como são eles que estabelecem os acordos de convivência discutidos por eles em assembleias semanais.  

Lá se aprende com liberdade e categoria porque a cidadania acontece sempre. Desde levantar o braço  para pedir a palavra a apanhar o lixo do chão e levá-lo até a lixeira. 

A cidadania, não é apenas citada numa disciplina específica, aliás não existe divisão em disciplinas e professores ou salas de aulas. Para entender a escola da Ponte é necessário se desfazer de todo conhecimento sobre escola tradicional que se tenha. Desmistificar o sentido de ensino-aprendizagem tradicional e se desfazer de todo preconceito enraizado em nós. 

Mas, ao contrário do que se possa pensar, há disciplina sim. O aluno precisa querer aprender, não há espaço para indisciplina ou preguiça. Todos estão dispostos a colaborar. Sendo assim, o aprender vai muito além de um programa voltado para o vestibular. O foco é a aprendizagem através do entendimento de mundo. A partir da realidade dos envolvidos: Professor e aluno.

Em seu livro A Escola com que sempre sonhei Sem imaginar que Pudesse Existir, Rubem Alves compara a escola tradicional com uma fábrica, onde a padronização determina toda a produção, a partir da linha de montagem. Assim como os produtos precisam estar impecáveis e todos iguais, os alunos precisam reproduzir nas avaliações o que foi dito em sala. 

Não tem como ler esse livro e não se emocionar ou criar/recriar toda a sua fé na educação. Aliás, é um livro para sempre revisitar. 

Outro dia me deparei com uma postagem no threads em que uma professora estava chateada porque seus ex-alunos haviam afirmado para a atual professora que nunca tinham visto um conteúdo pré-requisito para determinada aula e, sua colega a procurou para averiguar. Comentei em solidariedade que já havia acontecido de uma turma inteira afirmar nunca ter estudado conceitos demográficos e, eu ter sido a professora anterior. 

Não é preciso que as coisas continuem a ser do jeito que sempre foram. Além dos programas, precisamos nos preocupar com que  tipo de jovens estamos formando. Como afirma Rubem Alves(2001), Programa cumprido, não é programa aprendido. Já a ciência que se aprende a partir da vida, ela não é esquecida nunca. 

Os alunos aprendem o que faz sentido para eles. Assim, somos nós também, a aprendizagem só acontece quando estamos dispostos a aprender. 

A escola no Brasil, reproduz desigualdades. É muito complexo discutir modelos educacionais com os professores definhando em salas sem infraestrutura mínima, cheias de alunos em situação de vulnerabilidade social, sem a mínima compreensão do valor da escola. 

Eu sei o que é isso. Vivo essa realidade nas duas redes em que dou aula há mais de 10 anos. 

O sistema nos obriga a seguir uma cartilha com um programa falido e sem sentido para o aluno. Por mais que a BNCC tenha trazido as habilidades e competências socioemocionais ao programa, o sistema de avaliação ainda nos amarra quando exige que façamos provas para avaliar o desempenho das turmas. Provas padronizadas para todos os alunos, onde os professores precisam alinhar semanalmente os conteúdos a serem trabalhados. Tudo errado! uma vez que cada sala de aula segue um ritmo diferente das demais. Há turmas em que o conteúdo flui e, ainda assim, não é possível garantir 100% de alcance. 

Na escola tradicional, não há espaço para a imaginação, lamentavelmente, os alunos estão a cada dia que passa com menos vontade de aprender. 

Finalizo com um trecho que me emocionou bastante:[...] "É bom estar com crianças, elas tem um olhar encantado... Com os adolescentes é diferente. Eles não têm olhos para as coisas. Eles só tem olhos para eles mesmos". Rubem Alves


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